A primeira palavra foi um grito de dor, de prazer. Interjeições apontavam para o vazio até que alguém as ecoasse. Alguém era ninguém ainda, e todos os olhos, se se destacavam nas trevas, sofriam do mesmo estupor. Um macho, de falo magoado, ergueu as vistas ao sol e pediu piedade ao molhado da água e ao seco da terra, inventando-nos uma origem que justificasse a caprichosa economia da morte. Ao redor do fogo calculado, os sobreviventes alinharam-se em círculo num pacto de silêncio e até as crianças ganharam o nome de homem, na digestão da fome que fez gerar a prece inaugural. E só por isto baixou-lhes o tempo e a criação de uns intervalos, a que puderam chamar de diversão. Os jogos iludiam a carne e fortaleciam a espreita do acaso e a certeza do destino. Tudo era sempre; tudo era já.
- Tenho saudades do tempo em que contávamos com a fantasia do conforto.
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