quarta-feira, 19 de novembro de 2008

DEPOIS DO PARAÍSO


Eu sufoco esse coração que bate até ranger a porta dos olhos.
Eu inspiro fundo a angústia da noite após o prazer.
Eu treino a paciência como um beduíno que enfaixa de tiras negras a cabeça que cruza o deserto.
Eu esculpo a quietude da beleza na casca frágil que tenta conter a tempestade de uma alma.
Eu crio novas orações quando todas as palavras parecem mortas.
Eu olho como um deus para fraqueza de minha humanidade.
Eu expulso os demônios dos quartos trancados dos filhos de boa família.
Eu danço como um macaco santo para pisotear a infâmia dos bons costumes.
Eu ressuscito das trevas para trazer o sorriso da manhã aos jovens que temem tudo, menos o sexo.
Eu invoco os punhos dos escravos que construíram a pirâmide de Gizé para exigir piedade dos céus.
Eu venço as horas como quem se deixa vencer pelo amor.
Eu treino a disciplina do ferro e do fogo na entrega total.
Eu retorno para contar uma história de todo mundo e merecer a amizade de um só senhor a todo custo,
Ao custo de uma vida.
Cuspida no barro.
Escarrada no acaso de uma estrela.

23SET08

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