segunda-feira, 24 de novembro de 2008

INSEGURANÇAS


Haverá alguém que achará profundo não falar de coisas profundas num blog, quando todo mundo é profundo demais. Haverá alguém que saberá revelar uma vulnerabilidade sujinha, fora da hora, fora da idade. Haverá alguém que depois de tanta convicção, não saberá ser senão poético. Haverá algum jovem velho, que não defenderá, que não acusará, que não quererá ser budista vegetariano anarquista. Haverá algum jovem que deixará de ser iconoclasta ao compreender como sua uma dor universal, que não tem graça mesmo. Haverá algum jovem belo e inteligente que não será rebelde e engraçado só porque tem um quarto protegido numa boa família. Haverá algum jovem belo e inteligente que saberá rir de compaixão, sem saber que esta é sua natureza fatal. Haverá alguém que se tornará rico por odiar o mercado de trabalho. Haverá alguém a quem o rock n’ roll não salvará às pressas de um desejo insatisfeito. Haverá o meu sonho, idiota, franco, por determinação da esperança vã, defendida com petulância, fora de idade, fora dos sonhos, fora das graças de um belo rosto defendido no escárnio da juventude. Não haverá mais a repetição, o verso vazio. Haverá apenas o ato falho da espontaneidade. Haverá um dia em que os jovens perceberão que os conceitos são provisórios e que só brincam como crianças mimadas de serem verborrágicos. Haverá um fim do meu rancor. Haverá um fim do meu ciúme. Haverá dois olhos furados pela inveja. Haverá meu ódio me condenando mais uma vez, como se eu desconhecesse a paz. Haverá cada vez mais essa sublime humanidade superpopulando os vãos do universo conhecido. Haverá alguém que rirá deste dia anotado num blog e me salvará de mim. Haverá alguém que acredita em salvação. Eu tentei acreditar em tudo: de Cristo a Marilyn Manson. Amo muito tudo isso, como um idiota. E gosto de ser idiota, apesar de detestar outros idiotas como eu. Ao menos sou sincero. Mas isso é o que todos dizem. Coitadinho de mim. Haverá alguém que reconhecerá que minha revolta universal é um amor que está para ser inventado sem mais palavras. Haverá quem saberá que aqui só se pretende mostrar a inutilidade de expor uma dor que já não nos faz justiça. Haverá quem saberá calar quando descobrir que tenho encontrado a fonte da felicidade suprema, sem sorrisos de encanto. Haverá quem rirá de minha arrogância tardia. Haverá quem me julgar de um dicionário inteiro, por eu pretender ser além. Hoje eu quero a violência de mandar a juventude calar a boca, junto com os capitalistas que adoram criticar. Hoje eu quero que esta dor rasgada, imoral, anti-literária, entorte a cara das pessoas de bom gosto. Hoje eu sou um bicho egoísta cavando espaço para amar sem a interferência de algum filho de pai melhor que eu. Vão todos tomar no cu. Vão todos rir do meu ódio. Vão todos me ignorar, pois não mereço nem ser crucificado. Vão todos rir ou se compadecer do meu lamento, mal sabendo que me curo, que me fortaleço, que tenho demônios da madrugada sim, e que sei que vai passar, mas hoje não quero pensar duas vezes antes de cuspir na cara de quem me mostra que não consigo ser seguro o tempo todo. Haverá quem se calará por saber que eu já sei que essa falta de humor, essa dor, é de minha responsabilidade, mas o mundo anda uma merda mesmo. Mas eu amo o mundo. Eu amo o Minhocão e amo Paris. Eu amo os assaltantes que me apontaram uma arma na minha cabeça deitada no travesseiro, pois também me ensinaram a viver. Eu amo até quem me quer tirar o amor, pois sei que ainda tem muito a aprender e seu aprendizado salvará o mundo. E agora, por favor, deixem-me amar, deixem-me amar uma só pessoa, só uma. Deixa eu te amar, só você e mais ninguém. Veja que me torno bicho e canto e elevo penas sagradas como um tolo pavão só para não te perder para alguém mais ou menos idiota como eu. Fique em paz em meu peito. A juventude do mundo apenas começou. As festas da consagração, as novidades dos vinte anos são todas velhas já, mas você não saberá, não saberá, pois tem que experimentar o próprio erro, como uma profecia maldita que se colhe em lábios lindos de quem queremos beijar por sabermos que irá nos esnobar. De quem ousamos beijar porque temos quem nos acolha depois em casa, como se as traições fossem justas. E muitas vezes são. Devo escolher a dor de um novo amor? Deste amor? Destas mãos de poucas linhas que me solicitam, sem ter certeza se outras mãos são como as minhas? Deste meu ciúme infernal de saber que o amor tem fim e que já começo a ficar careca? Pobres homens, pobres pintos... Mas eu direi, mesmo velho, como Joyce: eu quero sim, eu digo sins. Sim! Haverá o fim das reflexões, das convicções, das palavras. Como se pudéssemos, enfim, acreditar na fé. Como se esta história toda, que é humana e não mais, pudesse terminar com a emoção de uma poesia que tivemos a ilusão de compreender. Mais ou menos como quando se diz: e foram felizes para sempre.

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