sábado, 13 de junho de 2009

Cinzas

'Será que vou conseguir parar de fumar?' Prometi aos deuses ser aquele um o meu último. A dor do vício já é grande demais. Pois é símbolo do "vício em outras mofadas formas de sentir e experimentar que fazem com que eu permaneça com a sensação eterna de que sou velho enquanto vejo o tempo levar a juventude de qualquer jeito".

Ufa. Eis que respiro melhor agora. Mas tenho lágrimas nos olhos. Não vou defender suas causas agora. Agora meus olhos estão vazios. Ou assim desejo. Sim, só um desejo substitui outro. Tá, tá. Mas cansei de viver desse jeito. Esta noite.
Esta noite eu fui ridículo. Assim me disseram até. Não achei bom, pois tive de morrer para. Sim, estou morto, digo por dizer. Enquanto que em minha cabeça gira uma feliz canção de ontem, anteontem. Sempre foi assim, o desespero numa canção.

Talvez sem o cigarro eu aprenda a morrer de verdade, e não aos poucos, e não aos porcos. Quero dizer: viver, deixar um sonho de infância chocar-se com a insatisfação do momento presente.

(Sofro sozinho, pois estou contaminado por este medo geral que recai sobre aqueles que não conseguem entender o outro.)

(Se eu praguejasse, seria um velho cansado ou um adolescente revoltado. Sou ambos. Não esta noite em que estou morto, anotando as horas na tumba. Será que quero morrer? Ou terei força para me divertir com a 'aventura de um sonho maior'?)

Tenho que parar de fumar. Não é só paranóia. Respirarei melhor. Serei mais forte. Comportarei sempre o sorriso certo a cada ambiente. Inspirarei um caminho inaudito de amor.

Mas esta noite precisei ser egoista, precisei deixar a curiosidade de lado e passar a sentir tédio. Precisei chorar sozinho para chegar no sentimento mais puro, isto é, sem destinatário.

Agora? Sinto a mesma frustração que senti em quase todas as aventuras para as quais me convidam, prometendo-me delícias que nunca se cumprem. Mas a pergunta é: será que da próxima vez darei uma nova chance com inocência, esperança e fé?

Quero aprender a pedir passagem cantando. De uma frase a outra, sempre. Como só um homem ridículo poderia fazer. Deixo a seriedade para a juventude que ainda precisa se afirmar entre o desejo e a razão, cativos de ambos. Quero mais é aprender a ver na luz de cada idéia a sombra de um desejo, e na sombra de cada desejo, a luz de uma idéia. Queria que aprendessem comigo, sem disputas, sem vacilações. Mas não foi possível de novo - quero dizer: esta noite.

Quando chegará o século em que todos seremos eternamente jovens e velhos? Guardo o segredo deste tempo em meu peito, em minha vida não contada. Só não sei do futuro, nunca é demais repetir. E claro, a sentença-mor: sei que vou morrer definitivamente, e não sei se é melhor se lembrar ou esquecer desta única certeza que nos salva e condena.

Que outra boca terá coragem de revelar a minha sua sede eterna, como num jogo de crianças sob o sol da praia?

Preciso mudar.