segunda-feira, 21 de setembro de 2009

para começo de festa



I don't wanna talk; a noite é para ser vivida. Sim, refrões baratos. Um caco qualquer de pensamento não vale o compasso grave dessa música. Qualquer batida do coração só vale o movimento livre desses braços e pernas. Mas, escondo o jogo, ainda. Mantenho o fogo nos olhos como se estivesse de óculos escuros. Disfarço o desejo da boca mascando um chiclete com refrescância no fundo. Sou polar, sou mistério. Faço as rodas do carro girar: leve-me para qualquer lugar. Não tenho pressa, não escolherei por desespero, mas pelo instinto, por isto deixo o desejo ruminar, tranquilo como se a noite não fosse acabar, e não vai mesmo; todas as noites são a mesma, serão sempre. Não estou aqui para um orgasmo, mas pela fantasia, permita-me colocar este ponto.
Estou pronto. Deixo a velocidade riscar as luzes da cidade em meus olhos, por falta das ondas de um mar. A camisa branca pode parecer dura demais, principalmente o colarinho no pescoço frágil, nas veias latentes. Pois a escolhi pela textura fria, acre como um cigarro. E mais: não me fantasio de palhaço à toa, sou mais é soldado da beleza, por isto o linho ancestral, de revestir múmias apegadas à ilusão do viver. Na calça, uma braguilha solta, cheia, porque me sinto livre, macho não. Macho é boca dura, e meus vermelhos são rosas esta noite. Sentiria-me vaidoso se gostasse de poses, mas pose fecha peito em estátua de pedra morta, e prefiro dançar minha dor, entregá-la ao movimento do vento que vier. Nada como a brisa de uma noite quente, de uma noite-útero a confundir os cabelos, a desfazer as marcas do estilo.
Quem vem comigo? Quem sorrir corajosamente a própria insegurança. Passem reto os que sabem das coisas, os servos da malícia. Quero mais é uma noite de encanto, porque sei que não haverá encanto algum, desses de sufocar. Noite boa é noite que se fantasia antes de acontecer. Entrando na festa, a festa acabou.
Por que sair então? Porque piso firme quando sonho alto. Por isso o tênis multicor. Cheiro fundo quando enfrento o medo. Por isso o perfume francês. Para dar coragem. Não é luxo, é o conhecimento do meu lixo, do que me é duro e fixo. Só pareço elegante quando encaro minha tristeza com dignidade. E se eu parecer belo esta noite, sorry, sou só um coração que passa batido, batendo só. Como você. Seja belo também para não sucumbir à esta sedução gratuita. A beleza não vem ao caso para quem se dança ao acaso. Sim, a beleza está em quem dança conforme a música. A beleza não está num belo nariz, mas num belo ouvido. Vai me deixar entrar por este vão?
Não, não me deixe entrar. Prefiro ver você acontecer sozinho, no meio da pista. Só assim seremos iguais. Ambos prontos para a solidão. Ambos esquecidos de que a noite é escura. Não é deslumbre, já aprendi a sofrer e agora posso brincar de ser feliz porque a felicidade não existe, é só jogo de tentar - e o melhor amor é o da manhã.
Esta noite eu vou à pista só, só para despistar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário