Uma oração às pressas é o que me concede o tempo. Para resistir.
Quem sabe assim essas mãos já não minhas me abençoem na invenção de um deus mais puro, nunca antes pronunciado e nem por isto só meu, que "eu" é coisa que me parte.
Uma oração assim, com ponto e vírgula em lugar certo, mágico. Mas sem mistérios, que hoje quero a sabedoria da manhã de pássaros.
A árvore cresce sem pensar e assim me ouço e distendo sem vaidade, sem querer, quase no impulso que sexo nenhum pode conhecer.
Um amor. Universal, maior, que me perca em direções várias, na mesma delicadeza de uma ponta de dedo.
Para saber-me só eu choro a tristeza de quem não soube me querer. Para saber tamanho, para sentir saudade, para tomar meu banho.
Rezo sempre: amanhã talvez. A esperança é tênue, sim, e se não fosse, seria força, mas força é coisa de trilhos e trens, e quero ser fraco como lago, contido, constrito, apegado à terra, se esta for céu também. Quero aprender a ser pequeno.
As coisas todas acontecem tanto que só me cabe dormir e sonhá-las uma por vez, sem querer bater mais que o compasso de um sorriso discreto - esta chama de uma oração de tamanho ideal, fulguroso e trêmulo.
Feito isto, adeus mares, adeus olhos. A chama que me desperta é também a que me consome. Isto seria ambíguo se fosse civilizado, mas aqui quem fala é bicho que mal se põe de pé, que mal entende porque se trabalha, porque se conforta, porque se apodera. Eu vou abolir o poder tão naturalmente como um bicho a quem não se pode chamar rebelde, a quem o tempo não conta, a quem o universo perdoa e esquece.
Adeus, amor. Tua face é outra em qualquer canto. Sou livre para doer e por isto não me cabe exaltar. Meu amor não é um gozo. Meu amor não é uma história, um nome. Meu bonde é de outra era. Minha nostalgia é fraqueza dos ossos. Guardo-me assim. Assim. Assim. Que esta palavra caiba em qualquer beijo cuidadoso. A mim amém.
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