sábado, 12 de setembro de 2009

As Cidades Invisíveis de Italo Calvino

Terminei de ler AS CIDADES INVISÍVEIS de Italo Calvino (1923-85), considerado o maior escritor italiano do século XX, mas que é cubano. Nacionalidades à parte, é grande decerto. Para defender valores novos ou ancestrais para uma humanidade corrompida, ele não se apóia em intelectualismos arrogantes, mas faz da base de sua literatura tudo aquilo que é popularesco, pitoresco, burlesco. Isso é italiano sim, como o cinema de Fellini ou Pasolini, mas latino em geral, na essência, tendo como paradigma o Quixote. Talvez seja preciso uma imagem para ilustrar seu truque genial: todos sabem que não é fácil engolir uma alga marinha, ainda que mesclada em alguma iguaria da culinária japonesa. No mar, entretanto, sendo uma vez levado pelas ondas fáceis, recebendo o sol compensador, tolera-se e mesmo ama-se a estranheza de ter as pernas batidas e alisadas pelas algas em seu estado natural e vivo. Pois bem: vejamos o mar como o infinito compêndio de mitos que preenchem de graça nossas histórias, e as algas como as difíceis verdades que entrementes se anunciam. Assim é a literatura "fácil" de  Calvino.
Com muitos sorrisos agradecidos cheguei ao fim desta leitura que não se quer esgotar, só para recair no núcleo de tensão que me acomete há anos exigindo-me coragem; Calvino, generoso, coroa sua obra, ou dela dá cabo, deixando um conselho óbvio - pois nada é óbvio - a quem busque a coragem da expressão:
O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.
Que o céu exista e Italo Calvino traga-lhe algum riso e lhe amplie o horizonte imaginário.

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