segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Um Poema de Anne Sexton

Esta tradução é dedicada a Antonio Ferah, que me apresentou essa poeta americana, aparentada de Sylvia Plath no estilo confessional, inédita no Brasil. Intriguei-me na força quase sexual com que ela luta contra a degeneração e a morte em geral, quase como um estupor plácido. Será? Bom... Deve valer tudo para explicar a atitude dos poetas, mais até que as patologias que a ciência inventa. Principalmente, porque aqui a sensibilidade feminina, incoercícel às palavras, se resguarda, cumulando vozes fúteis da algazarra civilizatória masculina.
A escolha desse poema em específico também se deu por razões que a ciência não explica.

Music Swims Back to Me
by Anne Sexton


Wait Mister. Which way is home?
They turned the light out
and the dark is moving in the corner.
There are no sign posts in this room,
four ladies, over eighty,
in diapers every one of them.
La la la, Oh music swims back to me
and I can feel the tune they played
the night they left me
in this private institution on a hill.

Imagine it. A radio playing
and everyone here was crazy.
I liked it and dance in a circle.
Music pours over the sense
and in a funny way
music sees more than I.
I mean it remembers better;
remembers the first night here.
It was the strangled cold of November;
even the stars were strapped in the sky
and that moon too bright
forking through the bars to stick me
with a singing in the head.
I have forgotten all the rest.

They lock me in this chair at eight a.m.
and there are no signs to tell the way,
just the radio beating to itself
and the song that remembers
more than I. Oh, la la la,
this music swims back to me.
The night I came I danced a circle
and was not afraid.
Mister?

a música nada de volta a mim

Espere Senhor. Qual caminho leva ao lar?
Eles apagaram as luzes
E o escuro se move no canto.
Não há nenhum sinalizador neste cômodo,
Quatro senhoras, pra lá dos oitenta,
De fraldas, cada uma delas.
Lalala, Ó a Música nada de volta para mim
E posso sentir o compasso que tocaram
Na noite em que me deixaram
Nesta instituição privada em uma colina.

Imagine. Um rádio tocando
E todo mundo aqui estava louco.
Gostei disso e dancei num círculo.
A música verte sobre os sentidos
E de um modo esquisito
A música vê mais do que eu.
Digo, ela se lembra melhor;
Lembra da primeira noite aqui.
Era o frio estrangulador de Novembro;
Mesmo as estrelas estavam amarradas ao céu
E a lua tão brilhante
Ramificando-se pelas fechaduras para me espetar
Com um cantar na cabeça.
Eu tenho esquecido todo o resto.

Trancam-me neste assento às 8 da manhã,
E não sinais para contar um caminho,
Apenas o rádio batendo-se para si mesmo
E a canção que lembra
mais do que eu. Ó, la la la,
essa música nada de volta para mim.
À noite eu cheguei e dancei um círculo
E não tive medo.
Senhor?

2 comentários:

  1. Esse poema é genial, e acho muito foda ela se distanciar um pouquinho dela mesma, porque se vê que não é ela exatamente a mulher do poema.e uma ótima tradução!

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    1. Alexandre, você fez uma excelente tradução de Anne Sexton.
      Entra no meu blog (Jus et Humanitas) e lá você encontrará muitas traduções que tenho feito de outros poetas norte-americanos.
      Parabéns pela tradução!

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