"Todos temos que nos identificar e 'pertencer' a algo; mas não podemos nem devemos buscar nossa realização nesta atitude, porque reconhecer as distinções entre as coisas, diferenciar isto daquilo - ação implícita e fundamental no esforço natural - pertence à esfera da mera aparência, ao reino do nascimento e morte (samsara). A tendência popular indiana a tudo deificar, a tornar divinizada toda classe de ente, não é menos absurda, em última instância, que a irreligiosidade cientificista do Ocidente que, com seu 'nada mais que', pretende reduzir tudo à esfera do entendimento racional e relativo - desde a potência do sol até o ímpeto do amor. O relativismo e o absolutismo, quando totais, são de igual modo perversos, precisamente por serem convenientes. Simplificam em excesso visando os fins da ação eficaz. Não se preocupam com a verdade e sim com os resultados. Enquanto não compreendermos que cada coisa inclui todas as demais, ou pelo menos, que também é diferente do que parece ser, e que antinomias tais como as dos opostos - o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, isto e aquilo, o sagrado e o profano - estendem-se até as fronteiras do pensamento, mas não as ultrapassam, ainda esatremos atados ao monturo do samsara, sujeitos à ignorância que retém a consciência dentro dos mundos dos renascimentos. Enquanto fizermos distinções, exclusões ou excomunhões, seremos agentes e servos do erro."
Heinrich Zimmer - Filosofias da Índia
Nenhum comentário:
Postar um comentário