sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

ode ao ignorante

Não existe pior maneira de suportar o silêncio da solidão construída ao redor de si, que extrairmos um sombrio conforto ao assistir a desgraça dos outros. Ó ser ignorante e perdido que é o homem que não se adoça de poesia quando velhice o persegue.

Eu quisera não ter o estômago a arder para não ter de chorar minha dor aos cegos de quem só vê as próprias dores, insultando a natureza, desmerecendo a vida. Calem-se os palhaços e rufiões! Deixem o ignorante morrer no medo de seu coração negro! Aqui a vida é paz, meu senhor.

Pudesse a madrugada fria e a aurora que a segue confundirem-se na mais pesada tempestade e nem assim estas almas seriam lavadas, senão por breve relâmpago. Os ignorantes tem medo até da própria merda, e nunca ousaram ver às claras o olho do próprio cu; dão a palavra de morte à carne de seus prazeres, e o prazer fácil é única esperança que gastam em sua preguiça de pedra.

É bom revoltar-se contra o mau-humor, mesmo à custa de mais estômago. O claro estalar dos terremotos ainda acorda nossos mortos. Não é novidade. Não é desgraça alheia que nos possa confortar. É o inferno do egoísta que dá as mãos e os olhos, mas nunca o coração e o estômago. Gulosos de si, morrerão secos, no desespero de um primeiro e último momento de lucidez. Eu também morrerei, mas terei sabido, ainda que numa defesa arrogante, saudar enquanto jovem a eternidade antes da hora. Eu sou antes, eu sou sempre, eu sou aquele que o acaso permite adivinhar, filho e senhor do tempo. Sou bruxo do sonho e alquimista da pedra; sou meu espelho nesta face concreta. Sou a rosa, a multidão, sou ninguém. Já você, irmão ignorante, é tão "você" que não não ri nem chora a não ser por imitar o que a desgraça lhe ensinou de mãos dadas com o medo. Ó ignorantes! Serieis sobreviventes se já não fosseis mais que mortos. Pois os mortos são chorados, e os vivos, estes como tu, só fazem chorar, inspirando nada além de ódio e dó.

- Pior que ainda tenho fé que o amor ajustará suas contas.

(janeiro/2010)

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