Cansados dos ventos da noite, os finos fios de cabelo, frágeis e incomunicáveis uns aos outros pelo toque cego, tal uma raça inteira de humanos na cabeça de um deus, foram se acomodando na maciez maternal do travesseiro que, de tão justo, não prometia sonho algum.
A cabeça toda pesou sem culpa de ser só uma bola oca erguida no orgulho de um pescoço frágil que tanto se revirou para apreender as maravilhas do mundo. O peito pôde enfim suspirar a sinceridade de um cansaço ignorado durante o afã da sobrevivência de algum prazer.
A boca entreaberta aspirou um ar que se queria imaginar vindo de um tempo remoto onde não haviam homens, só terra e água revolvendo-se satisfeitas no próprio mistério.
Uma música chegou aos ouvidos, um zunido grave e suave que se reverberava como ondas de um lago calmo e habitado só por dançantes algas submersas em eterna oração.
Os olhos abriam e fechavam para comprovar se a reconfortante escuridão de fora era a mesma de dentro, de silenciosa entrega de todos os desejos ao lixo mais próximo.
As últimas palavras que a consciência soube captar foram: eu acredito. Depois, só uma revoada de pássaros translúcidos na noite fresca.
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