Alegoria dos quatro elementos, Louis Finson
AR
O ar pra quem voa é lucro,
pra quem parte é pouco,
pra quem fica é luto,
pra quem respira é oco,
pra espaçonave é um lustro,
pro recém nascido é um chute;
e quem pensa o ar com custo é louco.
FOGO
O fogo mais brilhante é o incêndio;
o olho mais ardente é traiçoeiro;
beijo quente é imitação que não ofende-o;
tem fogo até nos pulsos de um coveiro.
Explode uma faísca no rosto mais cândido;
no centro desta festa em chama me desviro.
O fogo é puro no escuro como o sorriso do bandido.
TERRA
O chão bate seco na estrada real;
escorrega o deserto na superfície de areia;
O dente que morde, a pedra fatal;
De pó também se ergue quem viaja na beira.
Terra batida, terra mexida no temporal,
terra de todos os nomes, terra só de poeira.
Mãe de todos, pai de cada funeral,
Engole o orgulho de ser tão astral quando é só rasteira.
ÁGUA
Onda que leva e engole,
gota que seca e vira céu,
mistério do fundo mais mole,
na fossa abissal o último véu.
Saliva que azeita a nota do fole,
chuva que campassa o galope do corcel,
mar que se enrola, nuvens ao léu.
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