Sim, eu juro, eu só queria gozar, mas foi outra coisa que aconteceu. Acordei sentindo ameaças de prazer, de baixo pra cima, de dentro pra fora, e todo ‘vice-versa’ verificado em qualquer corpo são ou só. O tesão acumulado da noite anterior, melhor esquecer. Ninguém te deixou de pau duro e você diz que é porque ninguém te interessou. Agora acorda sem se caber. E você se toca. Mas antes de se tocar, se toca de que você foi egoísta pra caralho. E o caralho tá morto. Quanto amor pra dar, você queria que dissessem, mas ninguém fala de amor numa segunda-feira, pobrezinho. Sim, você quer se acreditar especial, pensar em coisas nobres, mas só sabe arder. O amor não combina com sua respiração sufocada. Foi fumaça demais na pista de dança. Você se espreguiça para relaxar e provar para si mesmo que dormiu bem, mas sente quando o corpo retorce como só faz com outro corpo. O amor. Meu saco.
quarta-feira, 25 de abril de 2007
INCÊNDIO NO CIRCO
Sim, eu juro, eu só queria gozar, mas foi outra coisa que aconteceu. Acordei sentindo ameaças de prazer, de baixo pra cima, de dentro pra fora, e todo ‘vice-versa’ verificado em qualquer corpo são ou só. O tesão acumulado da noite anterior, melhor esquecer. Ninguém te deixou de pau duro e você diz que é porque ninguém te interessou. Agora acorda sem se caber. E você se toca. Mas antes de se tocar, se toca de que você foi egoísta pra caralho. E o caralho tá morto. Quanto amor pra dar, você queria que dissessem, mas ninguém fala de amor numa segunda-feira, pobrezinho. Sim, você quer se acreditar especial, pensar em coisas nobres, mas só sabe arder. O amor não combina com sua respiração sufocada. Foi fumaça demais na pista de dança. Você se espreguiça para relaxar e provar para si mesmo que dormiu bem, mas sente quando o corpo retorce como só faz com outro corpo. O amor. Meu saco.
Dos quatorze aos catorze
sp14nov06
Aos quatorze anos, decidi fazer da palavra o meu meio de vida, sentia uma necessidade imperiosa de registrar o que eu julgava ser o meu olhar original, distorcido, diferente, deformado, decadente sobre as coisas e abaixo delas. Também acreditei ser capaz de olhar para as coisas sem afetá-las nem por fora, nem por dentro. E procuro escrever apenas o que vejo, fora e dentro. Sempre tive dificuldade em me sentir original, como quer a moda, mas julgava-me talentoso, como quer a arte, sim, eu me julgava talentoso em viver escondido nas palavras, manuseando o sentido das coisas, o sentido de Deus. Eu sentia-me pleno na palavra homem. Às vezes, ainda hoje, torno-me o animal que sou e julgo-me mago, possuído de um egoísmo feroz, orgulhoso de esconder meus talentos para o momento certo, de revelá-los apenas para os iniciados. Mas, ultimamente, na maior parte do tempo eu apenas projeto e escrevo, lento demais para o meu gosto. Enquanto isso vivo, e apenas vivo. Quero acreditar que meu trabalho está bom, e sei acreditar e desacreditar se for preciso quantas vezes forem, mas dependo dos mais nobres sonhos para realizar o trabalho, e tenho medo de que a nobreza de meus sonhos se desfaleça cada vez mais em loucura, e não sei se rio ou se choro, mas sei que a Razão, a Luz, o Sol, Deus e minha dor de falta de amor me orientam na jornada gélida às sombras da noite, da alma, do Ser, do mais remoto passado, do mais longínquo futuro. Sou um religioso de tradições simplistas. Sou grosseiro como só o corpo sabe ser. Sou pretensioso, sim, por querer ser uma voz da humanidade posso ser considerado um perfeito capitalista ocidental com minha arrogância de concreto armado, e pareço ainda mais tolo por assumir com antecedência esta sombra. Eu prevejo a sombra para manter um sorriso, nem que isto doa a alma. Meu nome está protegido no segredo das estrelas, não falo dessas celebridades de plástico, mas das estrelas verdadeiras, as supremas, aquelas que os amantes trazem para o beijo, aquelas que calam um cientista, aquelas que um poeta ousa descrever. Disseco meu ego-santo-sonho e sei sentir-me humilde, quando é preciso. Só quero sobreviver, e no fundo sinto-me protegido apenas pelo meu medo, desde o mais instintivo impulso de sobrevivência até as esferas mais celestiais que o futuro do homem não pode alcançar. Quero para o alto, para os lados e para baixo. Quero um cigarro antes e depois de meu desejo. Tenho vícios, burrices, erros e os admito com o mesmo alívio reprimido dos depoentes de grupos de ajuda.
Sinto que aos poucos perco o medo de ter medo. Sei que daqui para frente terei menos medo, mas tenho medo da quantidade de medo que terei de enfrentar até a morte, e tenho tanto medo que a morte me alcance antes de cumprir minha missão de vida que nem sei falar disso sem parecer piegas, brega, cafona, como quiser me escrachar. Por isso, paro por aqui. Só seguirei, como sempre, para dizer uma última coisa:
No começo dessa soma de frases, eu queria escrever uma carta para meu pai, para lhe dizer que já faz anos que eu quero dizer e não consigo, vinte e oito para ser exato, duas vezes 14, mas, como sempre, saio da escrita com outra coisa, insatisfeito com o que meu pai possa entender de mim.
Não vou dizer que chorei, porque chorei, guardo essa informação para os iniciados... Sou obrigado a disfarçar: perdoe-me pai, mas essa carta vai para nossa cachorrinha Nica, que ainda existe, que vive a 14 anos, que caminha para a morte com a alegria inconsciente daqueles que não estão presos em sua memória, neste dia catorze de novembro de dois mil e seis, véspera desta república que me faz rir, e que ri de mim.
terça-feira, 24 de abril de 2007
Para Alexandre Rabelo
Escultor de palavras
Imaginação que assusta
Era essa a frase.
Mas como?
Como poderia dizer...Pensei que a pergunta correta a ser feita seria: Quando?
Quando poderia dizer?
Na velhice eu tentaria o simples...
Arrisquei: Eu sou simples, tu és simples, mas ele não é simples, nós nunca fomos simples...
Parece que tudo no mundo, tudo, tudo, tudo...
Tudo o que arquitetamos não tem profundeza.
Não para quem não agüenta o impacto de sentir no corpo o veneno das metrópoles.
É estou amargando por aí, já há algum tempo... Acabei de assumir minha clandestinidade.
E lembrei de um momento...
Quando eu parei de conter, quando eu parei de procurar, quando eu parei de querer, quando eu parei.
Parado ali...Ali mesmo, no tempo, e o tempo parou comigo, o tempo não prosseguiu, o tempo era meu aliado.
Eu tinha um tempo só meu... Enquanto as pessoas viviam aquele outro tempo, eu simplesmente entendi o meu próprio ritmo no tempo...
Isso me calou e comoveu.
Pude por um longo período me encantar com a idéia...
Eu teria que mudar-relaxar na vida, principalmente uma coisa: Eu não teria que me adaptar a nada e a ninguém... Não sentiria solidão, porque estaria completo, seria um dentro do próprio tempo.
Mas o ser bucólico que me condena a margem se pôs a falar...
E se eu não te amar?
Retalhado
A beira da cidade
Introspectivo
Esperando respostas
Colapsado
Foge de medo
Eu quis
Eu
Ser amado
Eu queria ser
Eu
e Eu não estão se dando muito bem.
Procuro o que?
Fui afundado
Não pude ir além
Tremi até os ossos
Vi o tamanho do corpo fora do corpo
Vaguei um bom tempo não sendo
Eu sendo outro
Perdi os contornos os sentidos a profundidade
Procurei meus aliados
Mas estava completamente só
Estava assim
Não-definido
Sem comando
E disse com a voz
Tudo bem
Estava vivo porque respirava
Mas não me comportava como se estivesse dentro do corpo
Não me comportava
Deslizei os olhos na boca a boca na testa a testa nos cabelos
Os cabelos escureceram meu peito
Do meu íntimo um leque entrava e saia
Fatiando a minha carcaça me mostrando órgãos
Eu procurava a língua os dentes
As texturas
Superfícies de apoio
Qualquer concreto
O teto não segura a noite lá fora
O teto se evapora junto com pessoas
Eu não evaporo
Eu embaralho
Enquanto não penso posso voar
Vejo de longe os emaranhados da vida
Da minha vida
Mudarei
Mudarei agora antes antes de desistir
Mas o vento sopra...
Eu ainda débil permaneço em suspensão...tempo
E descubro que não estou sendo
E te deixo ir embora assim... Deixo-te ir seja lá quem estiver te deixo
Não quero fazer parte dos que procuram eternamente
Eu posso aportar?