terça-feira, 31 de março de 2009

Diálogo incompleto entre um jovem de 20 e outro de 30


"Não sou jovem o suficiente para saber tudo"
Oscar Wilde


20 - Se estou na idade da liberdade, isto é, aberto à realização de qualquer sonho, por que o passado me prende, aliando-se ao medo de experimentar? Por que devo escolher o que sou, baseado no que fui?

30 - Você diz que é livre, mas para você a liberdade apenas começa. É um ideal ainda. Vai escolher a liberdade no ato de responsabilizar-se pelas próprias escolhas. Vai acreditar, justamente, que é livre para escolher. Aos poucos, a maior parte dos sonhos possíveis parecerão ilusões, por conta da necessidade de aplacar uma fome cada vez mais material. O espírito parecerá pobreza. Embora eu próprio tenha de assumir que volto a buscar o espírito, e o resto do invisível, nos despojos da carne.

20 - Você é tão dramático quanto eu. Corre atrás de certezas duvidosas, enquanto sondo por dúvidas certeiras.

30 - As certezas são atalhos. E se você não quer ser mais um servo da matéria, precisará de uma urgência que só as verdades proclamadas podem trazer. Você ainda tem o benefício de viver no tempo da poesia, espontaneamente. Eu luto para não esquecer o que sonhava aos vinte anos, por não conseguir ser espontâneo naquela época. Sei que, como antes, continuo desejando o tempo todo. Mas agora tenho menos medo de agir, o que torna as transgressões de outrora menos excitantes hoje. Cada vez faço um esforço maior para me interessar por coisas e pessoas, embora tenha menos preconceitos. Ao mesmo tempo, luto para me desapegar de coisas e pessoas às quais me acomodei.

20 - Você e eu somos iguais: continuamos a desejar um grande amor e a cartada certa. E isto não tem idade.

(janeiro/09)

Um comentário:

  1. "Tendo vivido vinte anos neste mundo, eu entendi que valia a pena viver nele. Aos vinte e cinco anos, tive a revelação de que a luz e as trevas eram duas faces de uma mesma realidade e que em toda parte onde nasce a luz, a sombra cai sobre nós. hoje, aos trinta anos, eis o que eu penso: ... Mais profunda é a alegria, mais profunda é a melancolia; maior é o prazer, maior é o sofrimento. Quem tenta separá-los não acerta o corte. Tentando livrar-se deles, é o mundo que vacila."
    Natsume Soseki, Travesseiro de grama

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