Quero depurar a quintessência da memória, ver as imagens do passado em silêncio, sem julgá-las, sem ser julgado por elas. Assumo o controle para deixar a mudança tomar conta de mim. Tome conta de mim. Meu corpo fala na noite quieta. Amanhã será o talvez do meu sonho. O que não digo entre uma frase e outra é a decisão do esquecimento. Só colho frases que me vêm numa respiração sem esforço, que engole toda falta, tédio, toda ansiedade, excesso. Falo para mim que, em transformação, não sou ninguém. Sou entre a memória e o sonho, entre o erro e o ajuste. Talvez eu seja qualquer um e qualquer um possa me entender. Isto também é sonho. Saberá me entender quem sabe trabalhar com fome, sem nenhum outro julgamento senão o instinto de sobrevivência. Tenho que ser prático, objetivo. E haverá o dia em que esse rico mundo de versos subjetivos será um capítulo em testemunho da construção social de uma nova objetividade, baseada na aceitação do acaso e no bom proveito da sorte. Passou-se o tempo de medir o mundo. Chega de ser criança e achar que receberei de alguém maior uma explicação para tudo.