To the Future Lovers
Um dia – creiam-me, irmãos! - fiei-me em crer na união dos corpos em fé. Era o sonho do amor. Ardiloso, ardi-me. – E vi o fundo dos bichos, que é da mesma matéria dos sonhos. E no fundo da alma, julguei ter descoberto o mistério da ciência - luz divina! E diante da revelação, ajoelhei-me – sem fé, sem amor, sem trabalho. Pura excrescência da Natureza. E depois, nada. – Apenas o cheiro vago das estrelas... Perdi todos os nomes que me eram caros.
Agora, a Razão. Sim, eu creio! Enfim, tomo um partido; tenho a fé dos idiotas. Pena que o prazer me busca – a morte das palavras, nomes, ideais. Como para não amar. – Ah! O Amor! As penas! Quase me fazem acreditar novamente nas palavras... Mas, não estou aqui para isto; não quero istos, ruídos. Já disse: é a Razão, o Partido. Eu creio! – é meu medo quem me faz repetir. Repetir-se, repartir-se: é para momentos assim que procuramos o vício – repetição suprema, pura de intenções veladas.
Sou viciado em momentos – é o instinto, talvez. Uso a memória para repetir-me, para não cair no abismo da incerteza. Medo de escuro. – pobre criança alucinada! Não devo esquecer que já tenho pêlos no cu. Para os idealistas isto é o fantasma da velhice; para idiotas como eu é a simples boca grotesca da morte. Mas, coitado! – o instinto sopra em meus ouvidos como vozes santas – o cu é tão natural... Sai de retro, instinto! Tens um nome para minha razão: Natureza... Ha! Ha! Ha! Não tenho cu, acreditem-me! Sou o Orgulho da Espécie. Sei ser idiota até o fundo da alma. Alma – eu creio – e com este isto, retorno ao amor, ao Ideal.
O prazer acabou, irmãos. Sonho com o mesmo fraterno vício de sempre: o prazer mais solitário que qualquer ser humano. Sou egoísta, para mim – amar é não ser. E ser é o que restou. As mãos e o coração eu doei ao trabalho da vida. Sim, a vida é lá fora! – esta é a voz da razão. E para cá retornamos, irmãos. Juntos! Somos Um na Razão e debaixo das cobertas, quando muito. Lá fora o caos é outro. E caos não é coisa má. – jura a Ciência da Física. Não temeis, partidários do Bem! Senão, juro em nome dos átomos que não sou bom nem mau; sou idiota, quem há de negar? Os de pouca fé? Os loucos? – Ah, loucura... chamei-te vício um dia. Agora passou. Arrependo-me do pecado. Haveria como se arrepender senão de pecados?
Ah, cristandade! Não te esqueço jamais. No princípio era o Logos, o Verbo – determina o evangelho. Eu aprendi a lição. Estou pronto para assumir minha inépcia em ser livre. Nasci para ser seguidor, e sigo por aí. – Como haveria de ser livre quem proclama a liberdade? Tenho inveja dos ratos, seguidores por obstinação. Não das formigas, que trabalham para sobreviver. Não sei estocar reservas, forças. Não sei entregar só o corpo; entrego tudo. Sou pronta entrega. Podem me comprar, mercadores – irmãos. Aproveitem enquanto o martírio me orgulha.
Espero com um cigarro aceso – sou o prenúncio das chamas infernais. Duvidas, Razão? Olhe bem para o meu encanto, meu desvio. Não sei caçar dinheiro. Escolhi ser pobre para ser puro. E não há nada mais paralisante que a pureza invicta. Um orgasmo, pelo amor de Deus! – que já sinto impulsos de ser sedutor, e minha palavra não serve a esta função. Aqui embaixo, no desejo, a coisa é bem outra, mais séria. Na boca eu permito o riso – é isto que me vês fazendo, possível leitor. E que riso é esse? O do idiota, oras! De que outra forma a razão camuflaria o desejo? Resposta: falando com voz de santo – não temeis o amor!
Ah, ratinhos... Se eu verdadeiramente soubesse ser um dos vossos... Mas que eu me cale; devo soar como um produto atraente. Afinal, sou inábil para vender outra coisa que não eu próprio. Sou minha única propriedade. Afora isto, nada sou, é escusado repetir. Não é pena, é ciência. Não sei ser mercador; isto é para Rimbaud (informe-se). Acho mais ajuizado ser pop star, ofuscante, negro de tanta luz. É preciso estar atento para ser pop. É preciso consumir a própria luz para brilhar. – Nada de nobres ambições. Nada de revolta. Simples martírio. O dinheiro venceu a burguesia. Voltamos a ser todos filhos de um mesmo pai. - Vinde a mim as criancinhas! Tenho o prazer para quem não der conta da verdade.
Conto a história da Verdade: um dia desejei a Arte. Criei todas as imagens, as belas e as mortas. Quis dar salvação pela forma, consolo pelo deslumbre da crítica. Mas – disse-me a última musa que me visitou – a Arte não é forma e pensamento: é corpo. Este corpo! – E por esta razão, tão carnal, o mais certo é ser pop star, encerrado na autoglorificação que exalta a espécie inteira. Uma vaidade superior para a redenção de todas as demais. Assumamos este acordo entre a natureza e a história. Foi Lennon, mais famoso que Cristo, quem disse: o sonho acabou. Como não acreditar? E salve Madonna, puta redentora!
Não tenho saudades do tempo em que eu, criança fabulosa, defendia uma causa. Agora é só o temor de Deus, a abertura do cu para o mistério das partículas ocultas aos olhos da ciência classificadora. Cansei de julgar por medo, para recolher restos de amor. Não falo a ninguém. Aqui o jogo é outro, sem destinatário. Escrevo, quem sabe, para os africanos, mais perto do sol e da fome, isentos da palavra que nunca os salvará.
Para vós, orgulho do ocidente, meus irmãos de raça, deixo a revelação crua de minha idiotice – para vocês que ainda se guiam para um belo e ideal Destino. Eu trabalho apenas pela sobrevivência da palavra morta. E não se iludam a meu respeito: não amaldiçôo a vida – para quê? – a morte já é, desde muito, personagem central em nosso drama tecnológico, científico, iluminado.
Agora deixo a Razão de lado. Partido, parti para parte alguma. Agora é a hora. O resto, ilusão, mito, resto. Despojo-me da habilidade da ilusão. Salto para o fim. E vos aguardo de braços abertos, solidário como nunca houve igual, do alto de meu egoísmo, pronto para a rendição da prostituição eterna. – O cu do universo continua a se expandir.
Homens, deixai de ser homens! Para as estrelas! To the stars! A história não nos salva mais; seus conselhos foram esterilizados pela ciência. A fome geral aboliu a luta de classes. Retornemos à inocência do primeiro assassinato, motivado pelo pão da terra. Foi este ato primordial, não nos iludamos mais, que tornou necessária a invenção do amor – este medo de ser estrela. Chega dos olhares melancólicos dos amantes em direção ao céu. A lua já foi pisada pela Razão, não há como voltar atrás. O Destino Manifesto corre adiante. Inventemos novos vícios – o vício puro do fogo eterno num corpo entregue de todo o coração.
Mas – quem sou eu para proclamar desventuras? Não tenho esta coragem: sou idiota e amo. Sei como é fácil amaldiçoar a Razão. Repito como um gago viciado: vinde a mim as criancinhas! Vinde com coragem! Só não me chame de Amor.
Sim, irmãos! – Minha reza é uma fuga aos vossos princípios. Sou fraco, dilacerado, mas não como vós, partidários partidos. Minha revolta é de carne, de estrela, de verdade, de vida lá fora. Com toda a licença.
Agora, a Razão. Sim, eu creio! Enfim, tomo um partido; tenho a fé dos idiotas. Pena que o prazer me busca – a morte das palavras, nomes, ideais. Como para não amar. – Ah! O Amor! As penas! Quase me fazem acreditar novamente nas palavras... Mas, não estou aqui para isto; não quero istos, ruídos. Já disse: é a Razão, o Partido. Eu creio! – é meu medo quem me faz repetir. Repetir-se, repartir-se: é para momentos assim que procuramos o vício – repetição suprema, pura de intenções veladas.
Sou viciado em momentos – é o instinto, talvez. Uso a memória para repetir-me, para não cair no abismo da incerteza. Medo de escuro. – pobre criança alucinada! Não devo esquecer que já tenho pêlos no cu. Para os idealistas isto é o fantasma da velhice; para idiotas como eu é a simples boca grotesca da morte. Mas, coitado! – o instinto sopra em meus ouvidos como vozes santas – o cu é tão natural... Sai de retro, instinto! Tens um nome para minha razão: Natureza... Ha! Ha! Ha! Não tenho cu, acreditem-me! Sou o Orgulho da Espécie. Sei ser idiota até o fundo da alma. Alma – eu creio – e com este isto, retorno ao amor, ao Ideal.
O prazer acabou, irmãos. Sonho com o mesmo fraterno vício de sempre: o prazer mais solitário que qualquer ser humano. Sou egoísta, para mim – amar é não ser. E ser é o que restou. As mãos e o coração eu doei ao trabalho da vida. Sim, a vida é lá fora! – esta é a voz da razão. E para cá retornamos, irmãos. Juntos! Somos Um na Razão e debaixo das cobertas, quando muito. Lá fora o caos é outro. E caos não é coisa má. – jura a Ciência da Física. Não temeis, partidários do Bem! Senão, juro em nome dos átomos que não sou bom nem mau; sou idiota, quem há de negar? Os de pouca fé? Os loucos? – Ah, loucura... chamei-te vício um dia. Agora passou. Arrependo-me do pecado. Haveria como se arrepender senão de pecados?
Ah, cristandade! Não te esqueço jamais. No princípio era o Logos, o Verbo – determina o evangelho. Eu aprendi a lição. Estou pronto para assumir minha inépcia em ser livre. Nasci para ser seguidor, e sigo por aí. – Como haveria de ser livre quem proclama a liberdade? Tenho inveja dos ratos, seguidores por obstinação. Não das formigas, que trabalham para sobreviver. Não sei estocar reservas, forças. Não sei entregar só o corpo; entrego tudo. Sou pronta entrega. Podem me comprar, mercadores – irmãos. Aproveitem enquanto o martírio me orgulha.
Espero com um cigarro aceso – sou o prenúncio das chamas infernais. Duvidas, Razão? Olhe bem para o meu encanto, meu desvio. Não sei caçar dinheiro. Escolhi ser pobre para ser puro. E não há nada mais paralisante que a pureza invicta. Um orgasmo, pelo amor de Deus! – que já sinto impulsos de ser sedutor, e minha palavra não serve a esta função. Aqui embaixo, no desejo, a coisa é bem outra, mais séria. Na boca eu permito o riso – é isto que me vês fazendo, possível leitor. E que riso é esse? O do idiota, oras! De que outra forma a razão camuflaria o desejo? Resposta: falando com voz de santo – não temeis o amor!
Ah, ratinhos... Se eu verdadeiramente soubesse ser um dos vossos... Mas que eu me cale; devo soar como um produto atraente. Afinal, sou inábil para vender outra coisa que não eu próprio. Sou minha única propriedade. Afora isto, nada sou, é escusado repetir. Não é pena, é ciência. Não sei ser mercador; isto é para Rimbaud (informe-se). Acho mais ajuizado ser pop star, ofuscante, negro de tanta luz. É preciso estar atento para ser pop. É preciso consumir a própria luz para brilhar. – Nada de nobres ambições. Nada de revolta. Simples martírio. O dinheiro venceu a burguesia. Voltamos a ser todos filhos de um mesmo pai. - Vinde a mim as criancinhas! Tenho o prazer para quem não der conta da verdade.
Conto a história da Verdade: um dia desejei a Arte. Criei todas as imagens, as belas e as mortas. Quis dar salvação pela forma, consolo pelo deslumbre da crítica. Mas – disse-me a última musa que me visitou – a Arte não é forma e pensamento: é corpo. Este corpo! – E por esta razão, tão carnal, o mais certo é ser pop star, encerrado na autoglorificação que exalta a espécie inteira. Uma vaidade superior para a redenção de todas as demais. Assumamos este acordo entre a natureza e a história. Foi Lennon, mais famoso que Cristo, quem disse: o sonho acabou. Como não acreditar? E salve Madonna, puta redentora!
Não tenho saudades do tempo em que eu, criança fabulosa, defendia uma causa. Agora é só o temor de Deus, a abertura do cu para o mistério das partículas ocultas aos olhos da ciência classificadora. Cansei de julgar por medo, para recolher restos de amor. Não falo a ninguém. Aqui o jogo é outro, sem destinatário. Escrevo, quem sabe, para os africanos, mais perto do sol e da fome, isentos da palavra que nunca os salvará.
Para vós, orgulho do ocidente, meus irmãos de raça, deixo a revelação crua de minha idiotice – para vocês que ainda se guiam para um belo e ideal Destino. Eu trabalho apenas pela sobrevivência da palavra morta. E não se iludam a meu respeito: não amaldiçôo a vida – para quê? – a morte já é, desde muito, personagem central em nosso drama tecnológico, científico, iluminado.
Agora deixo a Razão de lado. Partido, parti para parte alguma. Agora é a hora. O resto, ilusão, mito, resto. Despojo-me da habilidade da ilusão. Salto para o fim. E vos aguardo de braços abertos, solidário como nunca houve igual, do alto de meu egoísmo, pronto para a rendição da prostituição eterna. – O cu do universo continua a se expandir.
Homens, deixai de ser homens! Para as estrelas! To the stars! A história não nos salva mais; seus conselhos foram esterilizados pela ciência. A fome geral aboliu a luta de classes. Retornemos à inocência do primeiro assassinato, motivado pelo pão da terra. Foi este ato primordial, não nos iludamos mais, que tornou necessária a invenção do amor – este medo de ser estrela. Chega dos olhares melancólicos dos amantes em direção ao céu. A lua já foi pisada pela Razão, não há como voltar atrás. O Destino Manifesto corre adiante. Inventemos novos vícios – o vício puro do fogo eterno num corpo entregue de todo o coração.
Mas – quem sou eu para proclamar desventuras? Não tenho esta coragem: sou idiota e amo. Sei como é fácil amaldiçoar a Razão. Repito como um gago viciado: vinde a mim as criancinhas! Vinde com coragem! Só não me chame de Amor.
Sim, irmãos! – Minha reza é uma fuga aos vossos princípios. Sou fraco, dilacerado, mas não como vós, partidários partidos. Minha revolta é de carne, de estrela, de verdade, de vida lá fora. Com toda a licença.